Como fazer?

Vem agosto, pausa para muita coisa, talvez também eu deva pôr a vida em exame. Pensar mais não chega, que já o faço abundantemente; refletir é diferente, exige ponderação e assumir a importância do resultado. E, sobretudo, creio que preciso de considerar o recomeço: como quero que seja.

Que é...

É impressão minha ou estamos ricos? Ou é a escola do Cavaco a funcionar, agora já não com as betoneiras em grande velocidade até à míngua social final, mas com a distribuição do bodo sem esperar retorno de ética, eficiência, equidade?

Arrasto-me para fora dos lençóis e tenho uma miragem: há um prado com ervas pelos joelhos, uns besouros atarefados, uma ondulação a seduzir-me. Circulo por ali: as cócegas na barriga das pernas, o zumbido dos insetos, o sol no pescoço como mão de fada...

(Atrevam-se a concluir)

Os cachorros andam mais destemperados, as pessoas menos benevolentes, os barulhos mais vibrantes, os penteados ultra-ridículos, os 'pneus' mais ofensivos...

Digam-me que é só impressão minha e deito-me já da janela abaixo!

Pois não era mais humano 

Morrer por um bocadinho 

De vez em quando 

E recomeçar depois 

Achando tudo mais novo?"

José Gomes Ferreira tem razão, até porque, se aos quarenta começamos a reparar  na vida, só aos cinquenta, aos sessenta, é que se vai escrutinar a existência, apreciando cada detalhe... Mas, aí, hélas! , o relógio entra em modo de alarme. 

Hoje, mapas.

Não perdi o azimute, mas a procura de sítios, caminhos, localização de estruturas sociais -- interessa-me. E quando deito a mão a um mapa dos (relativamente) antigos, com bonecos, cores, tudo o que pareça artesanal, ganho o dia!

De França vem a verificação da regra de que 90% do sucesso se baseia simplesmente em insistir. Le Pen está a caminho...

Hidratação vs calor: o que escolher? Meloa, melão ou melancia?

A leitura hoje começa no Google, a recapitular o difícil processo de escolha da fruta mais eficaz para ultrapassar as horas de calma. Toc-toc na casca, apertões e observações do caule ainda agregado (ainda se vê?)... 

Ai! Como é árdua a resistência aos elementos...

Da Olga, sei que o "homem mau" morreu de morte macaca, engasgado com um osso na garganta, osso de uma corça que ele arbitrariamente matara - toma lá que já foste!

Mas hoje está um calor de ananases: vou passar o resto da tarde a bebericar sumo fresco e a ver séries em terceira ou quarta repetição...🥴

Olga Tokarczuk, Sobre os ossos dos mortos. 

Uma professora reformada vive num vilarejo polaco, perto da República Checa, num ambiente social e climático rude, mas de grande poder dramático.

"Com a minha idade e nas minhas condições atuais, deveria sempre lavar bem os pés antes de dormir, caso uma ambulância precise de me vir buscar à noite." Começa assim o romance e parece orientar a caracterização psicológica da protagonista. Logo a seguir, um dos vizinhos morre. É um homem muito desagradável, que mata os animais selvagens sem restrição e trata mal a cadela doméstica.

O mistério e as questões ambientais estão em cima da mesa.

Oscar Wilde: "Nunca viajo sem o meu diário. É preciso ter sempre algo extraordinário para ler no comboio."

Se queremos ser espirituosos, criativos, sem resvalarmos para o kitsch... não conseguimos! Temos de nos contentar com uma linguagem limpa e esperar encontrar leitores benevolentes.